Galeria de Arte da UFSC mostra “Cartazes – Grandes Formatos”

07/08/2006 14:24

Abre nesta terça feira, 8/8, às 18h30, na Galeria de Arte da UFSC, a exposição “Cartazes – Grandes Formatos”, com colagens do artista plástico Osvaldo Carvalho. Natural do Rio de Janeiro, Osvaldo Carvalho estará presente na abertura da mostra para a realização do “Encontro com o Artista”, momento em que falará de sua trajetória e do processo criativo de suas obras, num bate-papo com artistas, professores, estudantes e público interessado.

A Galeria de Arte da UFSC funciona no edifício do Centro de Convivência, no campus universitário. A exposição poderá ser vista de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30, até o dia 1° setembro de 2006. Contato: (48) 3331-9683 e pelo e-mail galeriadearte@dac.ufsc.br. Atividade gratuita, aberta à comunidade.

A exposição apresenta sete trabalhos que fazem parte da mais recente pesquisa realizada pelo artista, na qual Osvaldo Carvalho faz o uso da colagem buscando uma concepção de fácil absorção visual, e que contém subtextos revelados em um segundo olhar. Os cartazes, de grandes dimensões, com tamanhos que variam de 150 por 150cm a 154 por 564cm, têm como título: Fome Zero, Panem et Circenses, O Beijo, Cara ou Coroa, Brasileirinho, Conflito Interior e A Outra, e abordam temas políticos, religiosos e conflitos comportamentais.

Segundo o artista, os cartazes programáticos são o suporte para uma nova série de investigações, cuja relação se estabelece entre a escrita e a imagem. Na ordem de signos lingüísticos buscam a essência da linguagem em si, enquanto que na acepção, remetem a uma pluralidade subjetiva que requer do leitor visual, uma extrapolação de sentidos.

O cartaz é peça de divulgação daquilo que se quer que se torne público. Afixado às paredes em locais de acesso livre estão disponíveis para uma leitura que se exige seja rápida e cujo aspecto visual atraia quem passa. Aliando conceitos sutilmente extraídos de contextos variados, Osvaldo procura novas conjeturas, quanto ao que se lê e ao que se vê. Do sticker, individualmente, ele parte para a construção de um mosaico elaborado, que permite uma ampliação de idéias.

Esta exposição “Cartazes – Grandes Formatos”, que é inédita em Santa Catarina, foi apresentada neste ano na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre (RS), e na Galeria Antônio Munhoz, SESC Amapá, em Macapá (AP). No ano passado, passou pela Casa da Cultura da América Latina, em Brasília (DF) e no Museu de Arte de Ribeirão Preto, em Ribeirão Preto (SP).

Sobre o artista:

Osvaldo Carvalho, natural do Rio de Janeiro, é mestrando em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicação e Arte da USP. Iniciou seus estudos em arte em 2000 na EAV-Parque Lage, na cidade do Rio de Janeiro, no curso Arte: Produção e Conceito. Em 2001/2002 realizou estudos sobre História da Arte e desdobramentos contemporâneos e montou ateliê na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. Em 2003 passou também a desenvolver seus trabalhos na Oficina de Escultura do Museu do Ingá, em Niterói-RJ.

Realizou várias exposições individuais e participou de inúmeras exposições coletivas em diversas regiões do país, como nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Distrito Federal, Pará, Bahia, Ceará etc. Recebeu o Prêmio Interferências Urbanas, 2ª Edição, no Rio de Janeiro em 2000, Referência Especial do Júri. 1º Salão de Arte Contemporânea de Paraty, em 2004, e o 1º Prêmio Aquisição no 1º Salão de Artes Visuais de Uberlândia, e Prêmio Exposição Individual – XIII UniversidArte, em 2005, e, neste ano, recebeu o 1º Prêmio Aquisição, no 5º Salão de Arte Contemporânea de Jataí, em Goiás. Possui obras em acervos como Coleção César Gaviria, na Colômbia, Museu de Arte Contemporânea de Jataí, em Jataí-GO, Museu Universitário de Arte, Uberlândia-MG, Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro-RJ, e no SESC – Amapá Galeria Antônio Munhoz, em Macapá-AP.

CARTAZES, por Romualdo Palhano, Dr. Em teatro. Prof. da UNIFAP:

Utilizando-se da técnica de colagem, temas populares e frases comuns, Osvaldo Carvalho apóia-se em material industrializado como stickers, bulas de remédio e santinhos de papel. É nesse complexo gerado pelo artista que se percebe o sentido das frases, em comunhão com os reflexos e reflexões de quem as observa. Assim poderíamos resumir a sua obra Cartazes.

Cartazes como trabalho de arte contemporânea, nos remete à Pop Art, abreviação de “arte popular”, que surgiu na década de 50 na Inglaterra e tinha como objetivo uma forma de arte produzida para o consumo de massa. A Op Art, conhecida como “arte óptica” e que defendia para a arte “menos expressão e mais visualização” simbolizando um mundo precário e instável, também está presente na obra de Osvaldo.

Ao mesmo tempo as obras são um misto de várias situações, visto que são contemporâneas, populares e chamam a atenção no sentido de fazer com que o observador “voyeur”, reflita imediatamente diante do que vê. Os cartazes de Osvaldo Carvalho, não se contentam, não se resumem em si, ao contrário, exigem do observador que pare, olhe, perceba, veja e reflita diante do que está à frente de seus olhos.

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Sobre as obras expostas:

FOME ZERO (2005), 150x210cm. É baseado na política pública que visa à erradicação da fome e da exclusão social. Desde seu lançamento se tornou uma mobilização cívica, na qual a sociedade se articula com o Estado, que por sua vez aloca recursos humanos e financeiros com o objetivo de estender os direitos de cidadania aos milhões de brasileiros excluídos. Contudo, como em outros tantos casos, a fragilidade das intenções se quebra em meio ao jogo político truculento e a corrupção, entre vários males, aflora na cena da boa vontade, onde, ao final, tudo acaba em impunidade, ou pizza. Assim, a obra mostra um fundo com bandeiras de estados da união e bordas recheadas de bandeiras do Brasil. Nas letras da palavra pizza lê-se o lema institucional: “SOU BRASILEIRO E NÃO DESISTO NUNCA”. A única expectativa possível é o nunca.

PANEM ET CIRCENSES (2005), 150x225cm. O termo cunhado pelo poeta latino Juvenal foi escrito em suas Sátiras, que, vertido para o português significa Pão e Circo. Era um mecanismo de influência sobre o povo romano e uma fórmula para manter o bem estar da população, por meio de uma estratégia política que oferecia uma variedade de distrações prazerosas. O governo oferece comida e entretenimento. Assim como foi nas mãos dos imperadores, também hoje serve aos líderes como um eficiente instrumento de controle para manter todos calmos e confiantes de que serão providos por aqueles que os governam.

O BEIJO (2004), 154x564cm. Em troca de 30 moedas Judas traiu Jesus. Um beijo apenas para identificá-lo. Hoje, a identidade pop de Jesus está espalhada não apenas pelos templos das várias religiões cristãs, mas também nos pára-choques dos automóveis, nas vidraças dos edifícios, no carrinho do ambulante. São esses desvios que servem de motivo à confecção do cartaz, de modo a destacar uma subversão que vem ocorrendo nos dias de hoje em torno da fé e sua conseqüente banalização.

CARA OU COROA (2005), 150x245cm. O dogma é o ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa e, por extensão, de qualquer doutrina ou sistema. É a expressão legítima e necessária da fé. Esse ponto não pode ser questionado, nem se exigir dele uma comprovação de fato, parte da fé, igualmente arbitrária, mas com parâmetros pautados pelo que cada religião decidir como certo ou errado na vida. Nesse jogo de inúmeras possibilidades tem-se uma escala tal qual um jogo de azar, cujas probabilidades são pouco ou nada favoráveis. Cara ou Coroa está nesse viés de especulação do que é a crença. Diversos santinhos de Santo Expedito, o santo das causas impossíveis, compõem o cartaz cujo fundo é feito pelas orações ao santo e as letras pela imagem. Frente e verso, cara ou coroa, sorte ou azar, fé ou acaso.

BRASILEIRINHO (2005), 150x240cm. A infindável capacidade que os brasileiros têm para a improvisação e a informalidade é conhecida pelo termo jeitinho, que vem a ser um sinônimo de possibilidade, de que nada está perdido, de que algo novo (e inovador) surgirá para solucionar determinada situação. Aliás, são as situações extremas que mais puxam pelo lado criativo até que se resolva um estado que é visto como transitório. Pra tudo tem um jeitinho. Há que se confiar. O cartaz BRASILEIRINHO apresenta um fundo coberto por bandeiras do Brasil com palavras de incentivo, com algum tipo de encorajamento nacionalista, o que se contrapõe às letras da palavra JEITINHO, cuja confecção apresenta justamente o nosso jeitinho de resolver as coisas.

CONFLITO INTERIOR (2005), 150x150cm. Diante da necessidade de se fazer notar, muitos são os que apelam para a autopromoção acreditando que a única maneira de ser notado e bradando de si mesmo algo de especial. Utilizando o adesivo EU SOU O CARA nas cores azul e vermelho, divididos em dois campos de cor em cujo terreno se insere uma letra da outra cor, crio o sentimento não de autoconfiança, mas sim o de dúvida, o de contaminação, o de impureza, ou, ainda, como no Yin/Yang, um paralelo ocidental para determinar que nada é perfeito, nada é só bem ou mal, há sempre um pouco de tudo em cada um de nós. O sentimento narcisista é abordado de forma a confundir o espectador como um espelho de si no momento em que lê e, mais adianta, quando reflete sobre quem é esse EU.

A OUTRA (2005), 150x160cm. Neste trabalho, que envolve um adesivo que diz: Eu amo minha esposa, contraponho o desejo e a moral, pois o fundo é composto de adesivos inspirados em anúncios de jornais que oferecem serviços de sexo por dinheiro, na maioria das vezes com vantagens extraordinárias que servem de petisco ao imaginário. Nos tijolinhos dos classificados estão dispostos os nomes, sempre fictícios, das melhores e mais prazerosas mulheres que podem servir aos desejos de quem possua dinheiro para comprá-los. Eva é a primeira mulher, representa aquela que é dada por Deus a servir o homem, Adão, e desse paradigma, embutido no mundo ocidental tiro partido para expor a hipocrisia que cerca nossos atos e permeia nosso dia-a-dia com um consentimento tácito, como outras tantas permissividades veladas de nossa cultura.

A Galeria de Arte da UFSC faz parte do DAC – Departamento Artístico Cultural / Pró-Reitoria de Cultura e Extensão / Universidade Federal de Santa Catarina.

SERVIÇO:

O QUÊ: Exposição “Cartazes – Grandes Formatos”, colagens do artista plástico Osvaldo Carvalho.

QUANDO: Abertura dia 08 de agosto, terça-feira, às 18h30, com a presença do artista para o Encontro com o Artista.

VISITAÇÃO: De 09 de agosto a 1ª de setembro, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30.

ONDE: Galeria de Arte da UFSC, prédio do Centro de Convivência.

QUANTO: Gratuito, aberto ao público.

CONTATO: (48) 3331-9683 e galeriadearte@dac.ufsc.br – Visite www.dac.ufsc.br

Fonte: [CW] DAC-PRCE-UFSC, com material do artista. Colaboração: Jaime Silva, aluno bolsista.